Tudo Passará e Frestas do Tempo

Para Môa, os pássaros simbolizam o tempo, são registros de fragmentos. Trata forma e cor com a sensibilidade e ascese de quem busca a verdade sem nenhum comprometimento com o modismo, ou com o ser “ponta de lança”. Entretanto, um olhar cuidadoso sobre cada uma das obras revela gestos artísticos marcantes na arte contemporânea, a repetição e a seriação. Repetição e seriação de pássaros em pleno vôo, um convite para nele mergulhar, para tentar atravessar a espessa cortina e então descobrir as sutis diferenças. Repetições que diferenciam e que singularizam cada instante do tempo. São Frestas do Tempo, frestas que tencionam o ir contínuo e infinito dos pássaros, que se velam e se revelam na dança das nuanças de tons, na leveza das veladuras presentes na artesania poética instaurada. A direção indica a existência de uma ordem construtiva implícita na aparente desordem dos movimentos, cujo ritmo às vezes é quebrado na forma ou na cor, como a exigir um pensar, um refletir. Aqui, os pássaros transpõem a dimensão humana do tempo na medida em que cada obra referencia a incondicional seqüência de cada instante, cada momento.

Nadja de Carvalho Lamas
Membro da ABCA
Associação Brasileira de Críticos de Arte